quinta-feira, 30 de março de 2017

O negócio da quimioterapia

Estou a ver a série documental A verdade Sobre o Cancro, de Ty Bollinger.

O primeiro episódio que vi é sobre a prevalência, no início do século XX, da medicina química subsidiada pelos magnatas do petróleo, sobretudo Jonh D. Rokefeller, e sobre a forma como a quimioterapia é usada e abusada há décadas, imposta pelo cartel das farmacêuticas. Interessante ver como médicos com tratamentos alternativos foram perseguidos aos longo do século ou como as crianças são retiradas aos pais e obrigadas a fazer quimio, quando estes optam por seguir outra via.

Já aqui falei do MINDACT, ensaio clínico promovido pela Organização Europeia para a Investigação e Tratamento do Cancro, que revelou de 46 por cento das mulheres mastectomizadas com um a três gânglios afectados se submetera a quimio sem necessidade. Penso que sou uma delas – a quimio reduziu o meu tumor em pouco mais de um centímetro, o que nada significou, uma vez que a mama seria sempre retirada na totalidade (a largura máxima do tumor era de 5.8 cm). Para que serviu então a quimio? Para debilitar o meu organismo e colocar-me numa menopausa artificial com todas as implicações que isso acarreta? E que sentido faz ter como objectivo apenas o tumor – o que é importante é eliminar a causa do cancro, não apenas reduzir os tumores.





Já um estudo publicado no Journal of Clinical Oncology em 2004, efectuado durante um período de 12 anos, revelava que durante esse tempo a quimioterapia falhara em quase 97 por cento dos casos. Ou seja a contribuição da quimioterapia para a sobrevivência a cinco anos em pacientes adultos era de apenas 2.3 por cento na Austrália e 2.1 por cento nos EUA. Eis a conclusão do estudo: «como a sobrevivência a cinco anos para o cancro na Austrália é agora de 60 por cento é óbvio que a quimioterapia citotóxica apenas tem uma contribuição menor para a sobrevivência. Para justificar o contínuo subsídio e disponibilidade das drogas usadas na quimioterapia citotóxica é urgentemente necessária uma avaliação rigorosa da relação custo-efectividade e do impacto na qualidade de vida.»


O pior é que não é só uma questão de efectividade: a quimioterapia leva à morte de muitos pacientes, com o sistema imunitário esgotado.

E aqui cito mais uma vez o Professor Gershom (que já referi sobre o Tamofixeno) que afirma que das pacientes de cancro da mama que foram submetidas a quimioterapia, 15 por cento morrem na sequência desta. É interessante observar o seu raciocínio neste video.

Urge questionar os médicos: porque se limitam a impor o protocolo (a Chapa Três como lhe chamo) quimio/cirúrgia/radioterapia sem o questionar? Porque aplicam a quimioterapia a doentes que não necessitam dela? Porque não adequam o tratamento a cada paciente? A mim por exemplo nem sequer me perguntaram quais eram os meus antecedentes médicos, nem requisitaram o meu processo ao médico de família.

No documentário é afirmado que nos Estados Unidos os oncologistas recebem uma percentagem do custo do tratamento quando prescrevem quimioterapia. Sim, leram bem. Não, não são luvas: é uma procedimento legal. Suponho que cá isso não aconteça. Então porquê este império da quimioterapia?

Tamoxifeno – a droga contra o cancro que provoca cancro



Se o vosso cancro da mama for hormonal, ou seja se o estrogénio e/ou a progesterona o ajudam a desenvolver-se, é provável que após a quimioterapia, cirurgia e radioterapia vos seja prescrito Tamoxifeno (Nolvadex nos EUA) se ainda não tiverem atingido a menopausa ou um inibidor de aromatase se esse for o caso, durante um período de cinco ou dez anos.

O meu cancro era positivo para estrogénio em 95 por cento das células neoplásicas (ER 95%) e positivo para progesterona em 5% destas (PR5%).

O Tamoxifeno é um Modulador Selectivo do Regulador de Estrogénio (em inglês Selective Estrogen-Receptor Modulator ou SERM). Na mama, é um antagonista do receptor de estrogénio.
Segundo uma meta-análise de ensaios clinícos aleatórios de 2011, efectuada pelo conceituado Early Breast Cancer Trialists Research Group sobre as vantagens do Tamoxifeno nas mulheres com ER+ (que me foi passada por um médico) estas tem a ganhar 13 por cento na recorrência a 15 anos e quase dez por centro na sobrevida.
  



O Tamoxifeno foi criado em 1966 (como anticoncepcional- só mais tarde usado para o cancro) e continua a ser a única droga prescrita para este efeito. Milhões de mulheres o tomam. Milhões de mulheres desistem de o tomar. A pesquisa académica sobre a desistência é grande: cerca de cinco a dez por cento não inicia a droga (como eu), 20 ou 30 por cento desiste a meio dos cinco anos e 50 a 70 por cento não chega ao fim desse período (li variadíssimas pesquisas,  americanas e europeias).

Algumas dessas investigações estatísticas terminam incentivando os médicos a convencer as pacientes a tomar a droga. Esta é também prescrita para mulheres que não têm cancro mas que possuem factores de risco.
Porque será que tantas mulheres abandonam a droga? Sobretudo pelos seus efeitos secundários: provoca sintomas de menopausa agravados (afrontamentos, aumento de peso, hemorragia vaginal, depressão) sendo no entanto este o efeito secundário menos grave. Provoca ainda: fígado gordo e hepatite; alterações da córnea que levam a cataratas; tromboembolismos incluindo trombose das veias profundas, embolismo pulmonar, linfedema nas pernas (ligado aos trombos); miomas, endometriose, pólipos e o mais interessante: cancro do endométrio e sarcoma uterino!


Esta droga que é receitada a milhões de mulheres no mundo é um agonista do receptor de estrogénio para o útero, ou seja provoca cancro do útero. O Tamoxifeno está mesmo listado como um carcinogénio pela Organização Mundial de Saúde e pela American Cancer Society. Uma amiga minha teve de fazer várias raspagens ao útero enquanto a tomava.
Uma falácia sobre a droga é de que cura ou previne o cancro. A droga o que faz é adiar a deteção do cancro. Muitas mulheres, ao fim dos cinco anos de Tamoxifeno, têm uma recidiva. Como o Professor Gershom Zajicek da Faculdade de Medicina da Universidade de Jerusalém explica, o Tamoxifeno faz com os tumores não sejam alimentados pelo estrogénio adiando a recidiva. Ou seja, não cura o cancro porque não é um anti-carcinogénio - faz com que os tumores crescam mais devagar de modo que acabam por só ser identificados mais tarde... ou tarde demais.
No entanto há 50 anos que esta droga é imposta a milhões de mulheres, como se de uma prevenção ou cura se tratasse. Imaginem os proventos da Big Pharma!
Porque não foi criado algo com menos efeitos secundários? Porque não explicam os médicos qual é a acção real da droga, o que realmente faz? (é chocante que em tantas páginas da internet, se afirme que é uma prevenção para o cancro, o que mostra que não se deve confiar no Dr. Google).
Depois de muito pesquisar sobre o Tamoxifeno não o posso tomar, para exasperação dos médicos, que detestam ver a sua autoridade posta em causa (mais do que a minha vida). Penso que a única solução é a alternativa natural. Foi essa a minha opção, para já. Mais num próximo post.
Mas atenção: compreendo aquelas que optam por tomar o Tamoxifeno, com conhecimento dos seus reais efeitos. Não previne a recidiva ou cura o cancro (que, segundo penso tem que ser visto como uma doença crónica) mas, se permite que os tumores não sejam alimentados, adormece-os e enquanto o pau vai e vem folgam as costas!  E, ao contrário dos inibidores de aromatase é uma droga testada e bem conhecida.

sábado, 25 de março de 2017

A verdade sobre o cancro

O programa para hoje, depois da prática de ioga, é começar a ver a série documental «A verdade sobre o cancro».

sexta-feira, 24 de março de 2017

Menopausa: onagra e borragem

Um cansaço repentino, desde há uma semana torna as actividades diárias um sacríficio. Estar ao computador mais de meia hora dá-me dores terríveis nos olhos. Doem-me todas as lesões antigas da dança e as mais recentes artroses. Efeitos ainda da quimioterapia ou, mais provavelmente da menopausa em que a quimio me precipitou. Já decidi: amanhã vou comprar um suplemento de onagra ou ainda melhor, um de borragem,  este ainda mais rico em ácido gama linoleico, excelente para moderar os afrontamentos. Isto sem interferir com os receptores de estrogénio, para quem tenha ER+. Há, aliás, médicos que aconselham óleo de onagra ás mulheres que estão a fazer a terapia anti-hormonal seja o Tamoxifeno ou os inibidores de aromatase. Porque a terapia de substituição hormonal está fora de questão, claro, tal como as isoflavonas de soja. Entretanto, lá vou transpirando pela noite fora, mesmo com este Inverno extemporâneo.



sábado, 18 de março de 2017

Argumentos para recusar a radioterapia



Argumentos a ponderar para recusar a radioterapia no meu caso (atenção, apenas no meu caso. Quem fez apenas uma lumpectomia deverá geralmente fazer radioterapia ao restante tecido mamário. Quem fez mastectomia e esvaziamento axilar e tem mais de quatro gânglios afectados deverá, sem dúvida, fazer o tratamento. E mesmo quem, como eu, tem um a três gânglios envolvidos deverá fazer radioterapia, se bem que poderá haver condições atenuantes, digamos, a considerar):
 
1- A radioterapia deve ser iniciada quatro a oito semanas após a cirurgia. Devido à existência de seroma já se passaram 14 semanas, o que diminui a efectividade do tratamento (não encontrei referências sobre o assunto que se aplicassem ao meu caso, se bem que haja muita informação sobre atrasos no tratamento de pacientes sujeitas a lumpectomia).

2- O seroma encapsulou, criando um edema e uma fibrose que me limita o movimento. A radioterapia poderá causar mais fibrose o que aumenta a possibilidade de linfedema (10 a 15 por cento).

3- O cancro estava circunscrito aos três gânglios afectados não havendo vestígios externos, na massa axilar, digamos.

4 - Se mais tarde houver recorrência local (no cancro dos ductos operado com lumpectomia essa possibilidade é maior, no lobular invasivo (o meu caso) há mais tendência para metástases distantes) a radiação poderá ser utilizada no peito uma vez que esses tecidos não terão sido ainda irradiados.

5- Tenho consciência de que as células cancerosas existentes localmente se podem espalhar ou já ter espalhado, por isso vou fazer análises regulares (a 15 de Março os marcadores tumorais mostravam que estava tudo bem).



6- Tenho conhecimento de que a radioterapia diminui em mais de dez por cento a possibilidade de metástases (comparando as mulheres mastectomizadas com um a três gânglios afectados (o meu caso) que fizeram radio com as que não o fizeram: a recorrência local foi de menos 16 por cento; a primeira recorrência (a 10 anos) foi de menos 11.5 por cento e a mortalidade foi de menos 7.9 por cento (ou fim de 20 anos) segundo estudo financiado pela Cancer Research UK publicado no The Lancet em 2014.
 
7- Por outro lado, a radiação pode criar células estaminais de cancro da mama que são 30 vezes mais resistentes à quimioterapia e à própria radiação, como demonstrou um estudo da UCLA em 2012. Ou seja as células irradiadas perdem a capacidade de apoptose (morte programada) e tornam-se mais resistentes, sendo responsáveis pela criação de metástases.

quinta-feira, 9 de março de 2017

Andar em Frente

Andar em Frente, documentário de Helena Inverno e Verónica Castro passou na RTP, na passada terça-feira dia 7 de Março. Pode ser visto no portal da RTP aqui.
Sinopse:«Mulheres, maridos e filhos rompem o silêncio ao partilharem de forma íntima, comovente e corajosa as suas experiências sobre o cancro da mama. Realizado inteiramente no Baixo Alentejo, ANDAR EM FRENTE é um filme que nos revela surpreendentemente que o cancro da mama muitas vezes é um começo de vida.»



Depoimentos na primeira pessoa sobre a experiência do cancro da mama. É interessante ver a maneira diferente como as mulheres encaram a doença: umas escondem-se em casa, outras continuam a sua vida, na medida do possível. Algumas, passado o susto vão para os bailes cantar e dançar, que a vida é curta. Eu tendo mais para esse segundo tipo, gaiteira.
Penso que incluir um pouco da vida do dia a dia dessas mulheres, em vez de apenas usar as entrevistas, teria tornado o documentário mais rico.

quarta-feira, 8 de março de 2017

O argumento contra a radioterapia



 A radiação faz mal como a morte da própria Marie Curie testemunha. Ou a das vítimas de Hiroshima e Nagasaki.
Já aqui vimos que são usados dois tipos de tratamento no caso do cancro da mama (3D conformacional e IMRT). Ambos podem causar sequelas permanentes, entre elas o encapsulamento da prótese ou seja a criação de fibrose na zona irradiada, que aparece meses depois dos tratamentos. Sobre este assunto encontrei um artigo médico interessante que refere um estudo em que a administração de vitamina E (400 IU por dia) e de  PTX - pentoxifylline (400mg - um comprimido três vezes por dia) durante seis meses após oo final da radioterapia reduz significativamente a fibrose causada pela radiação. Conheço várias mulheres que tiveram este problema: depois da rádio ficaram com uma massa dura como uma pedra em vez de mama.
Mas a lista de efeitos secundários desta terapia não se limita às fibroses, apesar de estas serem comuns e aterrorizantes, uma vez que limitam a mobilidade. O linfedema é outra «simpática» possibilidade. Sobre este muito há a dizer e no futuro ele merecerá um post só seu. Sem gânglios, o braço está sujeito a ficar inchado devido a um pequeno corte, queimadura ou infecção ou devido à radiação na zona axilar. O inchaço é extremamente limitante e é para a vida.
Também o parahipertiroidismo parece esta relacionado não só com o cancro da mama em geral (ver estudo) mas também com a radioterapia na zona do peito (ver estudo). Nesta doença a glândula que regula o cálcio no organismo (e que fica por trás da tiróide) fica desregulada causando osteoporose, fadiga crónica, pedras nos rins, ataques de coração.
Quanto às queimaduras, são a reacção já esperada da radioterapia e parecem-me o efeito menos grave. São piores para as peles claras.
Eu, com os minha tendência para as fibroses (miomas, tendinites, entorses anquilosados e afins), com o meu hipertiroidismo (sim, eu sei não é mesma coisa mas anda lá perto) e com a minha pele de ruiva terei alguma sorte com a radioterapia?
Bom, deixei para o fim os efeitos secundários mais óbvios: cancro da pele, cancro do pulmão e cancro dos ossos… que só aparecerão dez ou quinze anos depois do tratamento.

Contudo o argumento contra a rádio não se fica pelos efeitos secundários (como se estes não bastassem): a radiação pode criar células estaminais de cancro da mama que são 30 vezes mais resistentes à quimioterapia e à própria radiação, como demonstrou um estudo da UCLA em 2012 (ver notícia).
Ou seja as células irradiadas perdem a capacidade de apoptose (morte programada) e tornam-se mais resistentes, sendo responsáveis pela criação de metástases.
Assim, como se sabe se uma metástase foi criada pelo cancro original ou por tais células estaminais resultantes do tratamento de radioterapia? Os médicos provavelmente vão vender-vos a primeira teoria. 
Por isso, é preciso reflectir nos prós e contras da radioterapia antes de nos sujeitarmos a ela e compreender se é adequada para o nosso caso.


O argumento pela radioterapia

Estou a ler um estudo (financiado, entre outras instituições, pela Cancer Research UK e publicado em 2014) que mostra que tanto as recidivas (a dez anos) como a mortalidade (a 20 anos) são menores para as mulheres que se submeteram a radioterapia.
Por exemplo, comparando as mulheres mastectomizadas com um a três gânglios afectados (o meu caso) que fizeram radio com as que não o fizeram: a recorrência local foi de menos 16 por cento; a primeira recorrência (a 10 anos) foi de menos 11.5 por cento e a mortalidade foi de menos 7.9 por cento (ou fim de 20 anos). Para as mulheres com mais de quatro gânglios afectados os números são semelhantes. Porém, para as mulheres mastectomizadas sem gânglios afectados a radioterapia não teve qualquer significado a nível das variantes acima descritas, ou seja não é necessária.
Tatuaram-me o peito há três semanas e tenho a radioterapia marcada para dia 13 de Março. Contudo, depois de mais de dois meses de atraso devido ao seroma, um quisto parece vir atrasar ainda mais o tratamento. Será um sinal dos céus? 

Cartoon de Randall Munroe em xkcd.com

segunda-feira, 6 de março de 2017

Radioterapia ao fim de três meses - que risco de recidiva?



Amanhã faz três meses que fui submetida à mastectomia radical modificada. Mama e mamilo removidos, três gânglios positivos dos 12 retirados. Por causa do seroma (que só diminuiu para 10 cc há pouco mais de uma semana) não pude iniciar a radioterapia que era suposto acontecer cinco a oito semanas depois da operação.
Há uns minutos a radiologista telefonou-me a marcar para dia 13 de Março o início da radioterapia, por cinco semanas, todos os dias. Perguntei-lhe se ainda valia a pena, se três meses depois seria efectiva e disse-me que sim. Perguntei-lhe ainda em que percentagem diminuiria a possibilidade de recorrência local mas não me soube dizer, não sei se entendeu a questão. Depois de ter optado pela radioterapia tradicional 3D (em vez da modelada, que seria no hospital privado) continuo com muitas dúvidas: vale a pena arriscar a minha saúde (a da minha tiróide, por exemplo, uma vez que tive hipertiroidismo) para reduzir a possibilidade de recorrência local (e eventualmente distante, uma vez que se tiver células cancerígenas localmente podem «viajar»)?
Depois do seroma fiquei com um nódulo fibroso de dois cm de diâmetro que me tolhe os movimentos e pode vir a causar linfedema. Irá a radiação aumentar essa possibilidade?
Procurei informação que me permitisse compreender o que ganho com a radiação, ou seja em que percentagem diminuem as possibilidades de recorrência no meu caso. Se for menos de dez por cento penso que não vale a pena arriscar. Encontrei um calculador da Universidade do Texas para mulheres com mais de 65 anos. Penso que esta ferramenta foi desenhada pelo facto de após essa idade a utilização da radiação ter que ser muito reflectida devido aos efeitos secundários. Mas não encontrei nada para mulheres mais novas…
Existe, no entanto, o MamaPrint, teste genómico que avalia o risco de recidiva, já referido no post anterior e que foi notícia em Portugal há um ano (se me tivesse informado em vez de trabalhar como uma louca quando descobri o cancro em Maio do ano passado talvez me tivesse salvo da quimio). Com base na percentagem de risco desse teste pode-se evitar a quimio e/ou radio. O Mindact, um estudo baseado no teste permitiu perceber que metade das mulheres que fizeram quimio o poderiam ter evitado. O problema é que custa três mil euros na Fundação Champalimaud e no hospital público só o fazem a algumas (a maioria das utentes nem deve saber o que é para o poder exigir). Talvez a mim me tivesse salvo desta menopausa súbita e incapacitante.

domingo, 5 de março de 2017

Quimio desnecessária


Algo de que me arrependo é de de ter feito quimioterapia sem ter mais informação sobre o tratamento. A quimioterapia colocou-me em menopausa antecipada e forçada. Hoje tenho dores terríveis nas articulações. Quando acordo a meio da noite para ir à casa de banho pareço uma velha de 90 anos a andar: quase não consigo dobrar os pés e as dores na coluna são arrasadoras.
A radiologista que me colocou os marcadores de titânio para se apurar qual a diminuição do tumor após a quimio, disse-me que este não tinha tendência a diminuir – era uma massa polimórfica, não concêntrica, que na realidade apenas se foi fragmentando um pouco durante o tratamento.
Se o plano já era, desde o início, tirar toda a mama, uma vez que o tumor tinha 5.8 cm na zona mais larga, porquê sujeitar-me a quimioterapia? O estadiamento sistémico foi negativo, ou seja não tinha cancro noutros órgãos para além da mama direita e dos gânglios. Para quê a quimioterapia?
Aos vários internos de oncologia que me atenderam (em seis consultas fui atendida por seis internos e nunca vi a médica que é a responsável por eles… e por mim) expliquei que era importante para mim não entrar de repente em menopausa por causa de todos os problemas músculo-esqueléticos que tenho (tendinites, hérnias, artroses, entorses anquilosados agravados por um atropelamento há cinco anos). Não se mostraram minimamente interessados ou sensibilizados. A primeira interna disse-me «bom, então a quimioterapia vai operar uma castração química no seu organismo» com uma naturalidade que me fez gelar o sangue.

Ou seja, em vez de, calmamente e durante alguns anos, o nosso corpo dizer adeus à fertilidade (com tudo o que ela implica para a feminilidade) e à juventude, passamos de repente, em três ou quatro meses, para a terceira idade. Ora, eu só esperava que esse processo, lento e natural, começasse aos 55 como aconteceu com a minha mãe, irmã e avó, não aos 50. E com outras pacientes de cancro acontece aos 35 ou aos 40, impedindo-as de procriar, criando-lhes problemas na vida a dois, problemas psicológicos graves. Se for uma escolha entre a vida e a morte, entende-se o tratamento. Mas, e se não for?
A oncologista do hospital privado onde fiz o diagnóstico chegou a propor-me uma injecção para conservar a função ovárica mas depois investigou e disse que não era cem por cento efectiva. Se não estivesse tão ocupada com terríveis aborrecimentos de trabalho antes da quimio teria explorado essa possibilidade. Acho chocante que no hospital público, face aos meus pedidos para que me não colocassem em menopausa, não me tenham proposto esse medicamento.
Enfim, chapa três (da expressão «chapa 5»….). É assim que sou tratada. Quimioterapia, cirurgia, radioterapia. É o protocolo. É assim que se faz. E muitas vezes falta-nos informação para pedir outro teste ou tratamento ou mesmo para recusar um deles.
Mas atenção: ao contrário do que a chapa três faz pensar, cada caso é um caso e nalguns deles pode ser realmente importante fazer quimioterapia. É só preciso ter cuidado para não morrer do tratamento, como acontece por vezes: o sistema imunitário enfraquecido é de tal maneira mal tratado pela quimio que o paciente não resiste…
Alguns estudos recentes mostram que a quimio é usada a torto e a direito. O ensaio clínico MINDACT (gerido e subsidiado pela EORTC - European Organisation of Research and Treatment of Cancer) baseado no método MamaPrint e no teste Adjuvant!Online mostra que quase metade (46%) das pacientes de cancro da mama  envolvidas no estudo não necessitavam da quimioterapia a que foram sujeitas.
Muitos pacientes de cancro recusam quimioterapia mesmo em casos que parecem uma questão de vida ou de morte. E aí estão, a defender outras maneiras de superar o cancro, através de mudanças na dieta e nos hábitos de vida. Alguns tornaram-se «coaches»: ensinam a outros pacientes a via alternativa. É o caso de Chris Wark - diagnosticado com cancro do cólon estádio 3 aos 26 anos - com o seu programa Square One ou de Elyn Jakobs, sobrevivente de dois cancros da mama.
Se, quando me foi proposta a quimioterapia, tivesse toda a informação que tenho hoje, provavelmente teria pedido mais testes antes de aceitar o tratamento.

sexta-feira, 3 de março de 2017

Um colchão novo porque lá se foi a mama



Deitar cansa. Muito. Foi o que descobri nestes últimos tempos. Deitei-me em N camas para descobrir o colchão adequado para os problemas que resultaram da mastectomia radical modificada.
Foram dias cansativos a caminho de grandes lojas e centros comerciais, a deitar e levantar, noites a procurar informação sobre o assunto na internet. Entre essa busca desesperada e o Carnaval (a minha festa «católica» preferida) pouco tempo sobrou para este blog. Busca desesperada porque já não aguento o colchão de molas duro, do tipo ortopédico, onde durmo.
Com o esvaziamento axilar à direita fiquei proibida de dormir para esse lado. Ora, era precisamente para esse lado que mais dormia, alternando um pouco com o esquerdo. Nunca dormi de barriga para cima. Com uma tendinite no ombro esquerdo – agravada pelo facto de, pós-operação, ter de carregar todos os pesos e fazer todos os esforços desse lado – tornou-se imperativo encontrar um colchão mais suave e adaptável. A ideia inicial era simples – aproveitar os saldos de Fevereiro e comprar um colchão de molas com uma camada de viscoelástico fofinho. Mas assim que me desloquei a uma loja de colchões percebi que a coisa não era assim tão fácil: a oferta é muito diversificada e a escolha muito difícil.

Acabei por reunir as seguintes exigências que serão eventualmente semelhantes para outras mulheres sujeitas a esvaziamento axilar:
1ª – Adaptabilidade, uma vez que dormimos para um só lado, lado que é massacrado durante as 7 ou 8 horas de sono (as que dormem de barriga para cima precisam de bom apoio para a coluna, sem ser duro, no entanto);
2ª – Frescura, porque a maldita quimio coloca-nos em menopausa com os fogachos correspondentes (eu sempre transpirei muito de noite, de qualquer modo);
3ª – Se dormem com companheiro/a, um sistema que, quando se mexem com as insónias da menopausa não acorde o/a desgraçado/a e que suporte bem o seu peso caso pese muito mais (como acontece com os machos). E já agora, uma superfície onde seja fácil voltarem-se quando estão a fazer «desporto» na cama.
Para o requisito número 1 temos a memory foam (viscoelástico) desenvolvida pela NASA para os astronautas e adaptada pela Tempur aos colchões (caríssimos) e que é comercializada em versões sem qualquer qualidade por gato-sapato. É espuma e, portanto, tende a ser quente. Temos ainda o látex (quente) e as molas ensacadas que fazem colchões frescos que servem também o propósito 3º - adaptam-se ao corpo sem disturbar o parceiro mas precisam de algo fofo por cima.
Portanto, o ideal é um colchão de molas ensacadas (quanto mais molas melhor) com viscogel (uma versão mais fresca do viscoelástico) por cima e um tecido de algodão ou algo natural a terminar. Não foi fácil, mas encontrei um modelo exclusivo de uma loja representante da Molaflex com estas características, o «Aruba».

Só que, entretanto, resolvi investigar as espumas porque há uns anos, quando fiz estudos de doutoramento em Barcelona, dormi uns meses numa cama de látex e nunca dormi tão bem. Porém o látex parece estar ultrapassado (uns dizem que é muito quente outros que é duro mas na realidade a firmeza é variável). O Bultex é um outro sistema de construção de espumas, já com décadas, que as faz menos quentes. Adorei a adaptabilidade firme dos colchões de Bultex e estive quase para comprar um modelo da Pikolin com viscogel por cima. Mas, por fim, cometi a loucura total e, contra o meu melhor julgamento, comprei um colchão de viscoelástico! Mas atenção: um topo de gama da Colunex, o colchão que é o ex-libris da companhia portuguesa e que a minha fisioterapeuta me aconselhou (ela dorme num igual). Pedi o máximo de densidade (D70) – é firme quando me deito mas imediatamente se adapta às curvas, sobretudo aos meus muito maltratados ombros. Parece que estou nas nuvens….
Enquanto o bem desejado não chega (12 dias para a entrega) já não sei o que fazer para dormir: experimentei dormir no sofá cama: caia para o centro do dito porque faz cova; coloquei uma espuma por cima do colchão ortopédico: não dormi com calor, a transpirar em bica. Acabei por pôr um edredão por cima do colchão, a fazer uma camada suave, a ver se me aguento (ando a cair de sono) até chegar a nuvem fofa dos céus.