domingo, 5 de março de 2017

Quimio desnecessária


Algo de que me arrependo é de de ter feito quimioterapia sem ter mais informação sobre o tratamento. A quimioterapia colocou-me em menopausa antecipada e forçada. Hoje tenho dores terríveis nas articulações. Quando acordo a meio da noite para ir à casa de banho pareço uma velha de 90 anos a andar: quase não consigo dobrar os pés e as dores na coluna são arrasadoras.
A radiologista que me colocou os marcadores de titânio para se apurar qual a diminuição do tumor após a quimio, disse-me que este não tinha tendência a diminuir – era uma massa polimórfica, não concêntrica, que na realidade apenas se foi fragmentando um pouco durante o tratamento.
Se o plano já era, desde o início, tirar toda a mama, uma vez que o tumor tinha 5.8 cm na zona mais larga, porquê sujeitar-me a quimioterapia? O estadiamento sistémico foi negativo, ou seja não tinha cancro noutros órgãos para além da mama direita e dos gânglios. Para quê a quimioterapia?
Aos vários internos de oncologia que me atenderam (em seis consultas fui atendida por seis internos e nunca vi a médica que é a responsável por eles… e por mim) expliquei que era importante para mim não entrar de repente em menopausa por causa de todos os problemas músculo-esqueléticos que tenho (tendinites, hérnias, artroses, entorses anquilosados agravados por um atropelamento há cinco anos). Não se mostraram minimamente interessados ou sensibilizados. A primeira interna disse-me «bom, então a quimioterapia vai operar uma castração química no seu organismo» com uma naturalidade que me fez gelar o sangue.

Ou seja, em vez de, calmamente e durante alguns anos, o nosso corpo dizer adeus à fertilidade (com tudo o que ela implica para a feminilidade) e à juventude, passamos de repente, em três ou quatro meses, para a terceira idade. Ora, eu só esperava que esse processo, lento e natural, começasse aos 55 como aconteceu com a minha mãe, irmã e avó, não aos 50. E com outras pacientes de cancro acontece aos 35 ou aos 40, impedindo-as de procriar, criando-lhes problemas na vida a dois, problemas psicológicos graves. Se for uma escolha entre a vida e a morte, entende-se o tratamento. Mas, e se não for?
A oncologista do hospital privado onde fiz o diagnóstico chegou a propor-me uma injecção para conservar a função ovárica mas depois investigou e disse que não era cem por cento efectiva. Se não estivesse tão ocupada com terríveis aborrecimentos de trabalho antes da quimio teria explorado essa possibilidade. Acho chocante que no hospital público, face aos meus pedidos para que me não colocassem em menopausa, não me tenham proposto esse medicamento.
Enfim, chapa três (da expressão «chapa 5»….). É assim que sou tratada. Quimioterapia, cirurgia, radioterapia. É o protocolo. É assim que se faz. E muitas vezes falta-nos informação para pedir outro teste ou tratamento ou mesmo para recusar um deles.
Mas atenção: ao contrário do que a chapa três faz pensar, cada caso é um caso e nalguns deles pode ser realmente importante fazer quimioterapia. É só preciso ter cuidado para não morrer do tratamento, como acontece por vezes: o sistema imunitário enfraquecido é de tal maneira mal tratado pela quimio que o paciente não resiste…
Alguns estudos recentes mostram que a quimio é usada a torto e a direito. O ensaio clínico MINDACT (gerido e subsidiado pela EORTC - European Organisation of Research and Treatment of Cancer) baseado no método MamaPrint e no teste Adjuvant!Online mostra que quase metade (46%) das pacientes de cancro da mama  envolvidas no estudo não necessitavam da quimioterapia a que foram sujeitas.
Muitos pacientes de cancro recusam quimioterapia mesmo em casos que parecem uma questão de vida ou de morte. E aí estão, a defender outras maneiras de superar o cancro, através de mudanças na dieta e nos hábitos de vida. Alguns tornaram-se «coaches»: ensinam a outros pacientes a via alternativa. É o caso de Chris Wark - diagnosticado com cancro do cólon estádio 3 aos 26 anos - com o seu programa Square One ou de Elyn Jakobs, sobrevivente de dois cancros da mama.
Se, quando me foi proposta a quimioterapia, tivesse toda a informação que tenho hoje, provavelmente teria pedido mais testes antes de aceitar o tratamento.

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