segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

Radioterapia – fazer ou não? 3D-CRT e IMRT

A radioterapia é muitas vezes prescrita como tratamento adjuvante no tratamento do cancro da mama. Nos casos em que o tumor é pequeno pode ser efectuada a radioterapia a seguir à lumpectomia com reconstrução, escapando-se a mulher à quimio e seus efeitos tóxicos (tenho duas amigas neste grupo). Por vezes, mesmo com um tumor pequeno a quimio é prescrita - por exemplo quando a proliferação das células cancerígenas é veloz (vejam a percentagem que está à frente do marcador Ki67 nos vossos exames).

Nos casos em que a proliferação é baixa e o tumor pequeno, há mulheres que recusam a radioterapia. Há também médicos que não acham necessário prescrevê-la.
No meu caso, tendo em conta que, apesar do indicador de proliferação ser baixo (15%) o tumor era grande (5.8 cm antes da quimio, 4.4 cm na análise patológica pós-cirúrgia), vou aceitar fazer esta terapia.
Outros factores que afectam a decisão, e também o planeamento do tratamento, são as margens deixadas em relação ao tumor e o número de gânglios afectados (no meu caso, três dos 12 retirados, incluindo o sentinela).
A palavra radiação deixa-vos como a mim, os (escassos) cabelos em pé? Com toda a razão – a radiação tem efeitos secundários arrasadores e não falo das queimaduras na pele e da fibrose do músculo peitoral mas dos danos nos pulmões e outros órgãos que podem resultar em vários tipos de doenças, como o cancro, e que só surgirão daqui a cinco, dez ou 15 anos.
Portanto, para além da decisão de fazer ou não radioterapia é preciso estar seguro de que o tratamento é feito por bons especialistas e escolher o melhor tipo de radioterapia externa.



No hospital público, onde estou a ser tratada, usam a técnica de Radioterapia Conformacional (Three-dimensional Conformal Radiotherapy ou 3D-CRT), por cinco semanas, e no privado propuseram-me a Radioterapia por Intensidade Modelada (Intensity Modulated Radiation Therapy - IMRT) por três semanas.
Ouvi o que cada um dos especialistas me explicou e procurei informação comparativa entre ambas, incluindo este estudo, este outro e este artigo (os últimos são sobre cancro da próstata mas muita da informação pode ser conclusiva para o da mama). Aparentemente a IMRT, pode ser modelada à volta dos órgãos, poupando-os à radiação máxima. No entanto a radiação secundária ou residual, digamos, é bastante difusa e vai atingir os órgãos. Na 3D-CRT a radiação acontece através de feixes directos que se cruzam – se o limite de um órgão estiver no seu caminho é também apanhado por essa radiação máxima tangencial.
Venha o diabo e escolha? No meu caso tenho escolha porque pago para um subsistema de saúde que me permite o acesso ao privado. Mesmo assim, continuo com dúvidas….
Nota: entretanto fiquei a saber que no hospital público também usam IMRT mas não me foi proposto. Porquê?


 

Interrogações e decisões difíceis



Para mim o pior do cancro tem sido a tomada de decisões. São opções importantes que vão influenciar a minha saúde futura e mesmo quiçá, a minha sobrevivência. Fazer ou não a quimioterapia; deixar que nos façam uma reconstrução imediata usando o músculo dorsal ou pedir a reconstrução em várias fases recorrendo a um expansor (o que eu fiz); fazer rádio 3D CRT ou IMRT; aceitar ou não a terapia anti-hormonal.
São decisões que apenas me competem a mim. Para tal tenho de ter o máximo de informação possível sobre os prós e os contras, sobre todo o processo.
No hospital público onde estou a ser tratada geralmente não tenho obtido informação suficiente por parte dos médicos. Em relação à cirurgia, tudo se atrasou semanas porque me apresentaram, em cinco minutos, a reconstrução usando o músculo dorsal como a melhor opção e eu recusei (fui atropelada e tenho sérios problemas na zona dorsal). Tive de procurar informação sobre as técnicas de reconstrução, falar com mulheres que optaram por uma ou outra (se bem que nalguns casos não tiveram muito a dizer) e ir a consultas de segunda opinião.
Relativamente ao famigerado Tamoxifeno continuo a procurar informação e alternativas.
No hospital público usam a técnica de Radioterapia Conformacional (3D CRT) e no privado propuseram-me a Radioterapia por Intensidade Modelada (IMRT). E agora? Que fazer? (ver post seguinte).
São muitas decisões a tomar – fora as outras, as relativas ao trabalho, por exemplo – que nos deixam num estado de nervos que não beneficia a cura.
É preciso informação para melhor as tomar.
Não se esqueçam: a decisão final é sempre vossa, não dos médicos. E notem: o que funcionou para uma amiga, ou para outras mulheres não funcionará necessariamente para vós.

quinta-feira, 26 de janeiro de 2017

Um emprego a tempo inteiro com horas extra





Gostaria de escrever este blog todos os dias, tanto mais que o iniciei já tarde neste processo. Quero deixar aqui testemunho e informação com referência para links académicos e de investigação sobre o diagnóstico e o tratamento do cancro da mama. Porém, há dias em que não sobra muito tempo ou disposição para escrever.
Quando iniciei o processo de diagnóstico foi a loucura porque estava a dar aulas no Porto ao mesmo tempo (vivo em Lisboa). Preparava as aulas e via os trabalhos dos alunos nas filas de espera para as análises, biopsias, ecografias, radiografias…
Durante essa fase não tive disponibilidade para procurar informação sobre a doença, ou sequer para pensar na minha própria mortalidade. Antes da cirurgia foi o stress total: não me foi dada informação suficiente sobre as opções de reconstrução e passei semanas a fazer buscas na net, a pedir testemunhos aamigas e conhecidas e segundas opiniões médicas.
Agora, pós-cirurgia (mastectomia radical), continuo a produzir grandes quantidades de seroma, líquido linfático que tem de ser drenado no hospital duas, três vezes por semana. Uma vez que fiz uma tendinite no ombro direito (e já tinha uma no esquerdo) impôs-se a fisioterapia três vezes por semana. Juntamente com as consultas, e as deslocações isto é como um emprego a tempo inteiro com horas extra!
Se tiverem um emprego das 9 às 5 talvez se aguentem a trabalhar durante este processo.
A quimio, foi para mim o tempo mais calmo (se bem que com semanas impossíveis) e quem tenha um emprego menos exigente a nível de calendário e viagens conseguirá, possivelmente, trabalhar. Quanto a mim, digo adeus ao segundo semestre de aulas: a radioterapia, que é diária durante cinco semanas, não começará antes de meados de Fevereiro o que quer dizer que não acaba antes dos idos de Março (a meio do semestre).
É difícil fazer planos durante este processo de tratamento do cancro da mama.

terça-feira, 24 de janeiro de 2017

A cabra menopausica.





É no que se vão transformar se o vosso cancro da mama for hormonal e ainda estiverem em idade fértil. Primeiro, o oncologista diz-vos de forma técnica e quase que com uma certa alegria, que a quimio vos vai provocar uma «castração química» (fiquei gelada quando ouvi isto, eu que só esperava o inevitável daqui a uns aninhos).
Depois a terapia anti-hormonal, vulgo Tamoxifeno, faz o resto: precipita-vos numa menopausa galopante e agravada de cinco ou dez anos.
Estão a ver aquela cinquentona gorda com mau cabelo que vos olha com raiva porque puseram uma mini-saia que até vos cai muito bem, porque, apesar da idade, se mantêm em forma? Ou a outra cabra monopausica que trabalha convosco e vos lixa só porque a vida ainda tem muito para vos dar, a carreira promete e têm uma postura jovial? Pois, se não tiverem cuidado, serão vocês esse monstro muito em breve.
A mim, o período (sempre certinho, de 28 em 28 dias) desapareceu-me a meio da quimio e quando esta acabou comecei a notar que o meu pavio, já de si curto, está minúsculo - fervo em pouca água e, claro, sobra para o dedicado companheiro e para quem está mais próximo. Terei, como os médicos tanto querem, entrado em menopausa? As minhas pobres articulações e ossos, que são o meu calcanhar de Aquiles, tremem, quando penso nisso.
Para além disso, como, para já, não estou a tomar o Tamoxifen ainda não começou a engorda, mas se me decidir pelo maldito, terei de me preparar para abandonar o equilíbrio entre os meus 56 quilos e o metro e sessenta e seis e preparar-me para um novo guarda roupa XXL (com aquelas lindas camisas às flores tipo toalha de mesa e saias saco de batata).
Portanto, a solução é exercício a duplicar (não, duas vezes por semana não chega) 10 a 15 doses de vegetais e fruta por dia, 0 açucares e farinhas refinados, nada de cafeína, pouca carne e leite. E muito riso e sexo….
Desculpem lá este desabafo mas já agora leiam os posts sobre as possibilidades de protecção da fertilidade (que não nos são propostas pelos médicos)  e sobre as alternativas ao Tamoxifeno que já deveriam estar comercializadas.

sábado, 21 de janeiro de 2017

Ainda os miomas e a terapia de substituição hormonal


Assim, como escrevi no post anterior, acredito que foi o estrogénio produzido nos ovários e nas glândulas supra-renais que era dirigido e acumulado nos meus miomas, que, excisados estes, passou a dirigir-se para as glândulas mamárias (foi-me detectado um carcinoma lobular invasivo). Seria interessante compreender a relação entre uma coisa e outra: aumenta o número de quistos mamários nas mulheres a quem são retirados os miomas? Quantas mulheres têm cancro da mama depois de lhes serem retirados os miomas? Uma mulher que tem miomas tem mais tendência para ter cancro da mama? Para além do estudo científico referido no post anterior não encontro investigação sobre esta relação, apenas a referência de que a causa é a mesma, o maldito estrogénio… O estabelecimento de uma relação directa poderia pôr de sobreaviso aquelas mais atormentadas pelos miomas e salvar vidas.
Ainda em relação às causas do meu cancro, de uma coisa tenho certeza: a hiperestimulação ovárica através da dose dupla do medicamento de terapia hormonal de substituição (THS) combinada (estrogénio e progesterona) contribuiu para o seu desenvolvimento. O que me havia de acontecer, logo eu que sou pelos métodos naturais e estava decidida a não tomar nada quando a menopausa chegasse, dali a uns cinco ou seis anos (parece que a genética interfere nisto e a minha irmã e a minha mãe só lá chegaram por essa altura - aos 50 não tinha sequer sinais de perimenopausa).
Sobre esta terapia já li de tudo, inclusive que mulheres que tiveram cancro da mama, ao fim de cinco anos podem fazer substituição hormonal... porém um estudo recente publicado no British Journal of Cancer alerta para uma relação directa entre este tratamento efectuado na menopausa e o cancro da mama (notícia em português). Um mês de THS combinada após a retirada dos miomas deve ter sido, senão a causa, pelo menos a cereja no topo do bolo para o meu cancro da mama.

Os antecedentes - miomas e choque hormonal

A 6 de Janeiro de 2016 fui sujeita a uma miomectomia abdominal num hospital privado de Lisboa. Os miomas subserosos na parede do útero eram enormes - um deles conseguia senti-lo quando dobrava o ventre sobre as pernas em alguns asanas de ioga, de que sou praticante há muitos anos. Pressionavam-me também a bexiga - passava a vida metida na casa de banho e por vezes tinha que interromper as aulas para ir verter águas.
Os miomas são fibroses que se desenvolvem no tecido muscular do útero, o miométrio, não são malignos e uma grande percentagem das mulheres em idade fértil têm-nos, por vezes sem darem por isso. Os miomas são alimentados pelas hormonas, sobretudo pelo estrogénio (dai diminuírem, ou «secarem» com a menopausa).
Porém ainda faltava um grande mioma alojado no interior do útero que era necessário remover com uma operação mais simples, através da vagina, uma miomectomia laparoscópica. Como preparação para a cirúrgia (visando diminuir o fluxo de sangue no útero) a ginecologista mandou-me levar duas injecções de Lucrin, a chamada pílula do dia seguinte. Fiquei um pouco nervosa porque uma amiga entrou rapidamente em menopausa (aos 42 anos) após levar uma dessas, mas obedeci. Quando apresentei as minhas dúvidas ao enfermeiro do Centro de Saúde que me deu a picada este gracejou que neste caso era melhor nem ler a bula...
Retirado o mioma a 15 de Março, a médica receitou-me um medicamento de substituição hormonal, Femoston - daqueles que costumam ser receitados às mulheres na menopausa - com estrogénio e progesterona. Comecei a sentir-me mal: foi a primeira vez na vida que senti um afrontamento. Reclamei mas a ginecologista disse que tinha que ser, para cicatrizar a parede do útero.
No dia 7 de Maio, ao espelho, notei que me «faltava» um bocado da mama direita em baixo enquanto em cima um grande alto aparecia. Tinha cancro.
Exactamente um ano antes, em Maio de 2016, uma mamografia mostrava que não tinha nada além de pequenos quistos, com BIRADS 1 para a mama direita e BIRADS 2 para a esquerda (ou seja risco de cancro muito baixo).
Os médicos continuam a dizer que ninguém sabe o que causa o cancro da mama (tirando os casos em que a genética interfere). Contudo, no meu caso ele apareceu depois da eliminação dos miomas (alimentados pelo estrogénio) e depois de ser submetida a uma hiper-estimulação hormonal. A causa parece-me evidente, apesar de até agora só uma oncologista ter concordado abertamente comigo (os outros resolveram defender a classe).
Não deveria a ginecologista ter-me mandado fazer uma mamografia antes de me encher de hormonas? Ou mesmo evitado as ditas, esperando que o útero cicatrizasse por si? Não estará a eliminação dos miomas relacionada com o cancro da mama com receptores estrogénicos positivos (ER+) como o meu? Claro que sim, uma vez que ambos são alimentados pelo estrogénio como alertam vários estudos. Porque não fui informada de tal? Não terá sido má prática médica?

sexta-feira, 20 de janeiro de 2017

Falta de informação

Em Maio de 2016 foi-me detectado um cancro na mama direita. Em Julho desse ano iniciei os tratamentos. Desde o início que sinto que os médicos não me dão informação suficiente. Essa informação é fundamental quando chega a altura de fazer opções.
Graças à Internet e a sites de instituições estrangeiras de pesquisa e divulgação, bem como a papers de várias universidades e centros de investigação, também estrangeiros, vou conseguindo alguns dados que me ajudam a tomar as minhas decisões. Em português não encontro informação suficiente - ou esta é muito institucional (o que não quer dizer que não seja importante e referirei alguns desses sites) ou trata-se de casos na primeira pessoa, sobretudo vindos do Brasil.
Falta em Portugal um portal que abranja toda a informação relativa aos vários tipos de cancro da mama, às várias fases de diagnóstico e tratamento, com um fórum de debate de experiências pessoais e alternativas, e mesmo com uma secção sobre alimentos e suplementos alimentares que têm um papel tão importante no tratamento e que sinto serem tão ignorados ou mesmo desprezados pelos médicos.
Seria um projecto de fôlego a levar a cabo por uma instituição ligada à investigação e tratamento do cancro da mama e como é óbvio não é a isso que me proponho neste simples blog.
O que aqui quero promover, através da minha própria experiência, é o debate sobre as questões que nos atormentam, mulheres com cancro da mama, tentando deixar referências que ajudem outras a tomar decisões e a enfrentar a doença.
E, claro, fazer notar que há alternativas que podemos procurar ou mesmo exigir para lidar com certos problemas, alguns inibidores de uma vida futura com qualidade, como a castração química e o tratamento anti-hormonal.
Notem: não tenho formação clínica - sou jornalista, artista e académica - e este blog não pretende ser um espaço de informação médica ou científica.
Este não é um blog «cor-de-rosa» porque, como diz uma amiga minha, «a vida não é uma quinta de póneis».