A 6 de Janeiro de 2016 fui sujeita a uma miomectomia abdominal num hospital privado de Lisboa. Os miomas subserosos na parede do útero eram enormes - um deles conseguia senti-lo quando dobrava o ventre sobre as pernas em alguns asanas de ioga, de que sou praticante há muitos anos. Pressionavam-me também a bexiga - passava a vida metida na casa de banho e por vezes tinha que interromper as aulas para ir verter águas.
Os miomas são fibroses que se desenvolvem no tecido muscular do útero, o miométrio, não são malignos e uma grande percentagem das mulheres em idade fértil têm-nos, por vezes sem darem por isso. Os miomas são alimentados pelas hormonas, sobretudo pelo estrogénio (dai diminuírem, ou «secarem» com a menopausa).
Porém ainda faltava um grande mioma alojado no interior do útero que era necessário remover com uma operação mais simples, através da vagina, uma miomectomia laparoscópica. Como preparação para a cirúrgia (visando diminuir o fluxo de sangue no útero) a ginecologista mandou-me levar duas injecções de Lucrin, a chamada pílula do dia seguinte. Fiquei um pouco nervosa porque uma amiga entrou rapidamente em menopausa (aos 42 anos) após levar uma dessas, mas obedeci. Quando apresentei as minhas dúvidas ao enfermeiro do Centro de Saúde que me deu a picada este gracejou que neste caso era melhor nem ler a bula...
Retirado o mioma a 15 de Março, a médica receitou-me um medicamento de substituição hormonal, Femoston - daqueles que costumam ser receitados às mulheres na menopausa - com estrogénio e progesterona. Comecei a sentir-me mal: foi a primeira vez na vida que senti um afrontamento. Reclamei mas a ginecologista disse que tinha que ser, para cicatrizar a parede do útero.
No dia 7 de Maio, ao espelho, notei que me «faltava» um bocado da mama direita em baixo enquanto em cima um grande alto aparecia. Tinha cancro.
Exactamente um ano antes, em Maio de 2016, uma mamografia mostrava que não tinha nada além de pequenos quistos, com BIRADS 1 para a mama direita e BIRADS 2 para a esquerda (ou seja risco de cancro muito baixo).
Os médicos continuam a dizer que ninguém sabe o que causa o cancro da mama (tirando os casos em que a genética interfere). Contudo, no meu caso ele apareceu depois da eliminação dos miomas (alimentados pelo estrogénio) e depois de ser submetida a uma hiper-estimulação hormonal. A causa parece-me evidente, apesar de até agora só uma oncologista ter concordado abertamente comigo (os outros resolveram defender a classe).
Não deveria a ginecologista ter-me mandado fazer uma mamografia antes de me encher de hormonas? Ou mesmo evitado as ditas, esperando que o útero cicatrizasse por si? Não estará a eliminação dos miomas relacionada com o cancro da mama com receptores estrogénicos positivos (ER+) como o meu? Claro que sim, uma vez que ambos são alimentados pelo estrogénio como alertam vários estudos. Porque não fui informada de tal? Não terá sido má prática médica?
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