Não encontro estudos sobre
pacientes de cancro da mama que recusaram tratamento ou parte do tratamento. Encontrei, no
entanto, um excelente texto de um médico sobre o assunto, publicado originalmente no The
Oncologist.
Muitas vezes a desistência
deve-se a falta de comunicação com o médico (e eu bem me posso queixar disso:
consultas de decisão terapêutica de três minutos em que o paciente nāo tem
hipótese de abrir a boca e «seis consultas/seis oncologistas»).
Outras vezes não se trata
de uma desistência, é uma decisão informada e consciente. Se analisarmos as
estatísticas, a sobrevida não aumenta assim tanto em certos casos e com alguns tratamentos,
enquanto os efeitos secundários são arrasadores, muitas vezes permanentes ou
até a causa de morte do paciente, por compromisso total do sistema imunitário ou criação de cancros secundários.
Hoje questionei a
radioterapia (na realidade ainda nāo decidi se a vou fazer) e o radiologista,
no hospital privado pelo qual optei, mostrou-me um estudo que compara a
sobrevida de mastectomizadas com um a três gânglios comprometidos (o meu caso) submetidas
a tratamento com radiação com outras que não o foram, com algum ganho para as
primeiras. Tenho tendência a fazer fibroses portanto, para mim, a radio pode
significar linfedema ou encapsulamento da prótese. Mais: a radiação faz com
que as células tenham menos capacidade de se regenerarem, de apoptose, após
serem irradiadas. Uma certa escola de investigação reflecte negativamente sobre o uso da
radiação, uma vez que poderá aumentar a hipótese de metástases.
A quimioterapia, prescrita
«Chapa 3», como lhe chamo, para tudo e todas, não é efectiva em muitos casos e
apenas contribui para debilitar o sistema imunitário ainda mais. No meu caso a
radiologista que me colocou os marcadores tumorais disse que o meu tipo de
tumor – polimórfico – não tinha tendência a diminuir. E realmente pouco
diminuiu. Uma vez que o diagnóstico sistémico era negativo, porquê arruinar-me a
saúde e colocar-me em menopausa forçada e galopante com todas as consequências para
o meu sistema músculo-esquelético e para a minha qualidade de vida em geral? Na
altura estava demasiado preocupada com questões profissionais e nem tive disponibilidade
para pensar no assunto e estudar uma recusa. E tive receio que os médicos não me operassem se eu recusasse essa fase do tratamento, a quimioterapia….
A maioria dos pacientes
deixa-se levar pelo medo e permite que lhe apliquem o "protocolo" (a tal
Chapa 3). Personalização? Nenhuma. Nalguns casos o doente nāo é sequer ouvido (quem quis
saber dos meus problemas esqueléticos, que dou aulas de ioga e preciso dos músculos
a funcionar, que não queria entrar em menopausa?). Compete-nos a nós decidir
que tratamento aceitar. Compete ao médico dar-nos toda a informação para
que possamos fazer uma escolha.
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