terça-feira, 7 de fevereiro de 2017

Recusar tratamento




Não encontro estudos sobre pacientes de cancro da mama que recusaram tratamento ou parte do tratamento. Encontrei, no entanto, um excelente texto de um médico sobre o assunto, publicado originalmente no The Oncologist.
Muitas vezes a desistência deve-se a falta de comunicação com o médico (e eu bem me posso queixar disso: consultas de decisão terapêutica de três minutos em que o paciente nāo tem hipótese de abrir a boca e «seis consultas/seis oncologistas»).
Outras vezes não se trata de uma desistência, é uma decisão informada e consciente. Se analisarmos as estatísticas, a sobrevida não aumenta assim tanto em certos casos e com alguns tratamentos, enquanto os efeitos secundários são arrasadores, muitas vezes permanentes ou até a causa de morte do paciente, por compromisso total do sistema imunitário ou criação de cancros secundários.
Hoje questionei a radioterapia (na realidade ainda nāo decidi se a vou fazer) e o radiologista, no hospital privado pelo qual optei, mostrou-me um estudo que compara a sobrevida de mastectomizadas com um a três gânglios comprometidos (o meu caso) submetidas a tratamento com radiação com outras que não o foram, com algum ganho para as primeiras. Tenho tendência a fazer fibroses portanto, para mim, a radio pode significar linfedema ou encapsulamento da prótese. Mais: a radiação faz com que as células tenham menos capacidade de se regenerarem, de apoptose, após serem irradiadas. Uma certa escola de investigação reflecte negativamente sobre o uso da radiação, uma vez que poderá aumentar a hipótese de metástases.
A quimioterapia, prescrita «Chapa 3», como lhe chamo, para tudo e todas, não é efectiva em muitos casos e apenas contribui para debilitar o sistema imunitário ainda mais. No meu caso a radiologista que me colocou os marcadores tumorais disse que o meu tipo de tumor – polimórfico – não tinha tendência  a diminuir. E realmente pouco diminuiu. Uma vez que o diagnóstico sistémico era negativo, porquê arruinar-me a saúde e colocar-me em menopausa forçada e galopante com todas as consequências para o meu sistema músculo-esquelético e para a minha qualidade de vida em geral? Na altura estava demasiado preocupada com questões profissionais e nem tive disponibilidade para pensar no assunto e estudar uma recusa. E tive receio que os médicos não me operassem se eu recusasse essa fase do tratamento, a quimioterapia….

A maioria dos pacientes deixa-se levar pelo medo e permite que lhe apliquem o "protocolo" (a tal Chapa 3). Personalização? Nenhuma. Nalguns casos o doente nāo é sequer ouvido (quem quis saber dos meus problemas esqueléticos, que dou aulas de ioga e preciso dos músculos a funcionar, que não queria entrar em menopausa?). Compete-nos a nós decidir que tratamento aceitar. Compete ao médico dar-nos toda a informação para que possamos fazer uma escolha.

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