sábado, 3 de junho de 2017

A reconstrução

Um estudo americano de 3 de Maio último salienta que metade das pacientes de cancro da mama se queixa de falta de informação sobre a reconstrução. Se bem que o estudo seja sobre uma instituição hospitalar específica, penso que traduz o que se passa em muitas outras, nomeadamente naquela em sou tratada. Foi aliás a falta de informação sobre a reconstrução que me levou a esta pesquisa e blog.

Informação sobre a reconstrução com os próprios tecidos, por exemplo. A mim foi-me negada, uma vez que não tenho gordura, disseram-me. É para aquelas que têm barriga ou rabo suficientes (se bem que a operação com as partes traseiras não seja muito popular cá porque exige muito trabalho de microcirurgia).

Sobretudo, cuidado com essa cirurgia da barriguinha - pode causar hérnia, uma vez que enfraquece o músculo abdominal. Hoje já se fazem cirurgias com tecidos próprios, sem usar músculo (existem,por exemplo, tecidos artificiais que sustêm a nova mama formada com gordura da própria e/ou prótese de silicone). Mas disso não me falou nenhum médico…
Retropeitoral clássica - primeiro o expansor, depois a prótese de silicone.
Depois existem as técnicas reconstrutivas com recurso a prótese. Como já aqui referi no post de 24/04/17, a reconstrução mais frequente no hospital público de referência onde sou tratada é a que utiliza o músculo dorsal – o latissimus dorsi – para suster a prótese (procurem dorsi flap no breastcancer.org). Compreende-se, poupa-se dinheiro; de uma só vez efectua-se a mastectomia, reconstrói-se a mama e no caso de ser poupado, coze-se o mamilo. Se tentarem «impingir-vos» esta reconstrução tenham em atenção o seguinte: com a radioterapia subsequente a prótese pode encapsular. Conheço vários casos, um deles uma prima que há três anos aguarda uma solução para a pedra que tem no peito, bem como o de uma conhecida que vai na sétima cirurgia para resolver umprobelma semelhante
Patologias da coluna ou costas são outro motivo para recusar o corte do dorsal.
Como já aqui referi, acho incompreensível que com os problemas óbvios que tenho nas costas, os cirurgiões me tenham tentado impor esta técnica de reconstrução. Com uma outra prima aconteceu o mesmo num hospital privado – queriam usar o grande dorsal «à força». Mas, no caso dela, foi a fisioterapeuta que se opôs: nem pensar com os problemas que tem na coluna.

Consultem o fórum da breastcancer.org sobre o assunto. Algumas mulheres ficam com problemas graves nas costas e com a mobilidade do ombro seriamente comprometida (como se  nalguns casos, como o meu, não bastasse o esvaziamento axilar para tal).
Ás vezes, as escolhas mais conservadoras são as melhores como a reconstrução chamada retropeitoral, usando um expansor (ou prótese, que pode ser enchida) por trás do músculo peitoral, faseada. Um dos cirurgiões do público disse-me que só fazia 40 destas por ano mas 400 das do latissimus. Supostamente a retropeitoral seria reservadas para mulheres fumadoras ou com outros problemas. Mas foi essa que escolhi.
No entanto, no hospital privado, o cirurgião plástico (professor universitário como eu, especialista na matéria) propôs-me, precisamente, usar o peitoral, de forma faseada: 1º - mastectomia sem reconstrução para que não houvesse encapsulamento durante a radioterapia, 2º - expansor, 3º - prótese de silicone, 4º mamilo (caso não se salvasse). 

Resumindo, existem vários tipos de reconstrução: 

1.Com tecidos próprios retirando músculo de outras partes do corpo (das costas, zona abdominal ou coxas) e que podem incluir implante ou não. Também existem operações que não usam músculo mas são mais complicadas, exigem microcirurgia e não são oferecidas em todos os hospitais. Mas são preferíveis. Vejam por exemplo o DIEP Flap (usa tecidos do abdómen mas não músculo) ou o Body Lift Perforator Flap, indicada para as magras, retirando gordura da barriga e das coxas.

2. Utilizando expansores e próteses, como a retropeitoral. Os expansores são geralmente de solução salina e as próteses podem ser mistas (solução salina e silicone, o que implica uma só operação - o implante vai sendo expandido) ou só de silicone.

 
DIEP Flap - reconstrução com tecidos do abdómen usando a artéria epigástrica inferior sem usar músculo.
Reconstrução com implantes.
A obra Reconstrução Mamária - a Escolha é Sua traduzida e adaptada pela Laço pode ser útil, mas para técnicas mais recentes a breastcancer.org é a melhor referência (vejam a tabela com a comparação das vantagens e desvantagens dos diferentes tipos).

Com o expansor há seis meses, tenho vivido os últimos três com uma mama mais pequena que a outra, uma vez que o meu cirurgião esteve doente e o médico que o substituiu não me encheu os expansor. Recentemente, durante as filmagens de uma curta metragem, foi-me difícil de esconder a assimetria, sobretudo nas cenas em fato de banho e camisa de dormir. Faço trabalhos como performer e actriz. Espero que me resolvam este problema brevemente.

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