«Dispa-se (…) Bom então
vamos tirar músculo da zona dorsal e colocar aqui à frente… Como !!!! O cabelo
ficou-me em pé. Expliquei que fora atropelada e tinha uma dor constante na zona
dorsal, precisamente daquele lado, onde as costelas estão saídas, a coluna
torta, informação que não tinham no hospital porque nunca me pediram e porque
não solicitaram a ficha do médico de família. «Bom então só se usarmos aqui o
peitoral… olhe, venha cá daqui a duas semanas». Esta troca deve ter durado
quatro ou cinco minutos.
Foi assim a minha consulta
de preparação para a cirurgia da mama. Foi então que percebi que era eu que
tinha que pesquisar os tipos de reconstrução possível para poder tomar uma
decisão e não permitir que me «impingissem» a da moda.
Mas isso foi o que voltou
a acontecer duas semanas depois quando outro cirurgião me atendeu e tentou
«vender» a tal da dorsal: «Por ano faço 400 destas e só 40 usando o peitoral».
Só que dessa vez, como já tinha feito a minha pesquisa, disse que era mesmo
essa minoritária que eu queria, faseada, primeiro um expansor e, depois da
radioterapia, a prótese de silicone. Aquela reconstrução que hoje em dia só
fazem a mulheres fumadoras ou com outros problemas.
Essa escolha talvez me permitisse evitar o encapsulamento da prótese durante a radioterapia - ou mesmo que acontecesse, poderia ser «consertado» na segunda cirurgia. A uma prima fizeram-lhe a reconstrução usando o latissimus dorsi e após a radioterapia ficou com um encapsulamento, uma fibrose. Há três anos que em uma pedra dura em vez de mama e as hipóteses de reconstrução, agora, são mais complicadas.
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Reconstrução usando o latissimus dorsi. |
Quanto à cirurgia não
havia dúvidas: era a mama toda. Então porque me haviam dito que a quimio
poderia reduzir o tumor (de 6 cm!) e que talvez fizessem só uma lumpectomia e
bla, bla? Para me convencerem a fazer a quimio? Bom, eu estava mais do que
decidida a tirar a mama toda desde o início. Quanto ao mamilo era diferente.
Num hospital privado tinham-me dito que durante a operação era feita uma
análise ao mamilo para ver se tinha células cancerosas. Se não tivesse, era poupado.
Ali, no público, disseram-me que talvez o poupassem mas não me explicaram nada.
Quando sai da sala de operações não tinha mamilo.
Os gânglios também foram,
uma vez que o gânglio sentinela estava afectado, o que sabia desde a fase de
diagnóstico. Depois da análise patológica fiquei a saber que incluindo esse,
tinha três gânglios afectados ao todo.
Foi quando me vi
confrontada com a necessidade de tomar a decisão relativa à reconstrução, para
que não me impusessem a reconstrução da moda, que percebi que era eu que tinha
que investigar e que já o devia ter feito. O período de diagnóstico de grande
stress (mais por causa do trabalho do que do cancro) seguido dos meses calmos
da quimio, sem grandes queixas com muito mar e bons suplementos que me ajudaram
a aguentar, dava lugar a um dos meses mais stressantes da minha vida. Tomar
decisões sobre algo que vai influenciar profundamente a nossa qualidade de vida
futura não é fácil. Por isso fiz o que já devia ter feito e comecei a procurar
a informação que o médicos não me davam. E comecei pelas técnicas de
reconstrução que resumirei no próximo post.
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